Conversas com Mestres Salientes

Na cultura paraense é forte a presença de pessoas, que se encontram num momento da vida considerado atualmente como terceira idade, ou que estejam próximas dela, e que mantém um espírito jovem e galhofeiro. Tais pessoas enfatizam em sua forma de se relacionar com a vida uma alta dose de marotice, de molecagem, com ênfase em assuntos relacionados à sexualidade. Em suas conversas com amigos, com pessoas próximas, com clientes ou ainda em outras situações, elas se comprazem em brincar, em fazer galhofa com questões que podemos situar no âmbito da “saliência”, como dizem os paraenses. Apesar da idade, de se incluírem na categoria de senhoras e senhores, são mestres na arte da brincadeira, de exercitar o riso franco e moleque, de fazer troça com o amigo, vizinho, e mesmo de se auto ironizar. São exímios contadores de histórias, tanto vividas quanto mescladas com alta dose de imaginação, muitas delas com características picantes e libidinosas.

Essas pessoas pertencem, sobretudo, às classes populares, e pautam suas vidas por valores morais que permitem o exercício da brincadeira eivada de saliências, o que não consideram, portanto, algo indesejável ou inadequado para alguém que já ingressou na velhice ou se encontra próximo à mesma.

Considerando a expressão dessa forma de levar a vida na cultura paraense, bem como a inexistência de iniciativas sobre tal universo, a instalação retratou um grupo de pessoas representativas dessas vivências. Entre as quais destacamos as vendedoras de ervas do Ver-o-Peso, artistas populares, como músicos, poetas, e membros em geral das classes populares. Eleitas as personagens, foram realizados registros audiovisuais e conversas com as mesmas, que aconteceram em meio a seu cotidiano, em seus ambientes de trabalho, enfim, em locais em que suas vidas transcorrem. Tais conversas editadas, resultaram em perfis, exibidos em monitores e compuseram uma instalação, resultando em cerca de 90 minutos de vídeo, apresentada no Estúdio Reator no dia 08 de Dezembro de 2017.